quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O DOM DE LINGUAS - Autor: Pr. Josimir Albino do Nascimento

O Dom de Línguas

Introdução
 
Antes de partir, Jesus deixou uma tarefa primordial com os Seus discípulos (Mateus 28:18-20): Pregar o Evangelho. Para realizar essa tarefa, eles enfrentariam muitos desafios, dentre os quais, transmitir as Boas Novas para pessoas de outras nações, que se comunicavam em idiomas diferentes do deles. A fim de cumprir cabalmente a tarefa, precisariam do auxílio divino, ou seja, dos dons do Espírito.
 
Para que o Espírito Santo Concede os dons? A resposta para esta pergunta encontra-se em I Coríntios 12:7 “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso[1].”
 
O Senhor visava algo proveitoso quando concedeu o Espírito a Seus filhos: A pregação do Evangelho.
a) Atos 1:8 “...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, esereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
 
b) Atos 4:31 “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus.

Condição Para a Recepção dos Dons do Espírito

1. União Atos 1:14
 
2. Arrependimento Atos 2:38
3. Obediência Atos 5:29, 32
 
4. Oração Lucas 11:13
 
5. Fé Gálatas 3:14
 
Para muitos, a recepção do Espírito Santo é uma experiência subsequente ao batismo com água. Pelos textos seguintes veremos que pode acontecer:
 
a) Antes do batismo (Atos 10:44, 45)
b) Logo após o batismo (Atos 19:5, 6)
 
c)Depois do batismo (Atos 8:14-17)
 
O Espírito Santo decide quando batizar uma pessoa, de acordo com o Seu beneplácito.

Origem da Problemática Envolvendo As Línguas

A diversidade de idiomas é o resultado direto do pecado e da rebelião humana contra Deus (Gênesis 11:1-7). Se Ele confundiu os homens no princípio, diversificando as línguas, estabelecendo os variados idiomas, também pode, pela ação de Seu Espírito capacitar aos crentes para falar qualquer desses idiomas com a finalidade de disseminar o Evangelho.
Culto e Adoração na Visão Bíblica
 
1. Salmo 46:10 “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.”
 
2.Habacuque 2:20 “O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.”
 
3. I Cor. 14:33 “...porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos.”
 
4. Efésios 4:31 “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.”
Uma Abordagem Sobre a Expressão
 
“Novas Línguas” em Marcos 16:17
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas...”
 
Vejamos o texto grego: “shmeia de toij pisteusasin tauta parakolouqhsei en tw onomati mou daimonia ekbalousin glwssaij lalhsousin kainaij.”
Existem duas expressões para ‘novo’ no idioma grego: neós {neój} e Kainós 
{kainój}. O termo ‘neós’ significa algo inteiramente novo, que não existia antes, novo em folha. Porém ‘kainós’, refere-se a alguma coisa que já existia, mas que agora está sendo colocada numa roupagem diferente. Quando Jesus declarou, ‘Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros...’ (João 13:34), não estava dizendo que era algo inteiramente novo, até porque este mandamento está enunciado no Velho Testamento: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Levíticos 19:18).
 
Desta maneira, entendemos a expressão ‘falarão novas línguas’ como idiomas já existentes, porém, ‘novos’ para quem fala, pois ainda não havia se utilizado dos referidos idiomas para comunicação. Foi isso que aconteceu aos discípulos no dia de Pentecostes.
 
As Línguas Faladas Pelos Discípulos e Primeiros Crentes
 
Em Atos 2: 7-11 temos o relato de que as línguas faladas pelos discípulos eram existentes, e não estranhas: “partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios.”
Sabemos que em Atos 2 as ‘línguas’ faladas referiam-se a idiomas de nações. “Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?”
Precisamos examinar outras ocorrências em Atos a fim de saber qual a sua natureza. Se igual ou diferente do capítulo dois:
 
a) Atos 10:46, 47 “...Assim como nós.”
 
b)Atos 11:15 “...Como também sobre nós no princípio.” 
c) Atos 19:6 (Éfeso era uma cidade da Ásia Menor e a grande maioria dos crentes eram gentios de fala grega e não judeus)
 
Concluímos que através do livro de Atos, as ‘línguas’ são da mesma natureza, ou seja, de nações (Atos 2: 7-11).
 
No original grego, o vocábulo usado no verso oito para ‘línguas’ é dialéktos {dialektoj} que significa as diferentes maneiras de falar dos distintos povos da Terra, referindo-se, portanto, a idiomas.
 
Na versão grega do Velho Testamento chamada Septuaginta, tradução feita pelos hebreus em torno do ano 250 A.C., também conhecida como LXX, a expressão ‘glossa’ (língua) está sempre ligada a idiomas:
 
Daniel 1:4 (glôssan kaldaion)
 
Daniel 3:4 (laois, philai, Glôssai)
 
Daniel 3:7 e 29 (oi laoi, philai, glôssai /pâs laos, phile, glôssa)
 
Um exemplo muito relevante se encontra em Gênesis 11:7, ocasião em que Deus confundiu os homens e deu formação aos diversos idiomas. Aqui o vocábulo ‘glossa’, referindo-se a idioma, demonstra o seu emprego de maneira correta: (Deutê, kai katabantes sunkeomen autôn ekei tem glôssan) “Vamos, e havendo descido, confundamos sua língua (língua deles).”
 
Há ainda outros exemplos: Gênesis 10:5 e 20; Isaías 28:11; 66:18; Jeremias 5:15; Ezeq. 3:5, 6; Daniel 5:19; 6:25; 7:14; Sofonias 3:9; Zacarias 8:23.
 
Observemos que sempre que o dom de línguas ocorre no livro de Atos, estrangeiros estão envolvidos: Atos 10:1; 10:46; 11:17. O mesmo acontece em Coríntios, pois a cidade de Corinto era portuária. Depois de ter sido destruída pelos romanos em 146 A.C. e reconstruída por Júlio César, passou a ser colônia romana. No ano 27 A.C. já possuía 600 mil habitantes, entre os quais, marinheiros, comerciantes, etc. Por ser uma cidade portuária, a prostituição era uma prática comum. A cidade era cosmopolita e para lá concorriam muitos estrangeiros, entre os quais, cristãos advindos de diversas partes do mundo, interessados em contar as grandezas de Deus naquela igreja. Muitos desses estrangeiros não podiam se comunicar através do idioma local, e precisavam de intérpretes.
 
A Interpretação das Línguas
 
A palavra grega que corresponde a ‘interpretar’ no Novo Testamento, com exceção de Lucas 24:27, sempre significa traduzir de um idioma estrangeiro a língua vernácula:
 
I Coríntios 14:13 (diermeneuo - {diermeneuo })
 
Mateus 1:23 (o estin methermeneuomenon – {o estin meyermhneuomenon}) = “que quer dizer”, “o que significa”, ou “traduzindo”. 
Marcos 5:41 (o estin methermeneuomenon – {o estin meyermhneuomenon}) 
E ainda outros exemplos: Marcos 15:22, 34; João 1:38, 42; 9:7; Atos 9:36; 13:8; Hebreus 7:2.

Avaliações Linguísticas

Quando surgiu o neo-pentecostalismo, os seus advogados afirmavam que as línguas faladas pelos pentecostais eram conhecidas, contudo, linguistas de diversas partes do mundo demonstraram “que a moderna ‘glossolália’ consiste em sons desconhecidos e que algumas das pretensões de falar em línguas conhecidas são falsas.”
 
Uma autoridade em linguística, Mosiman, estudou vários casos e chegou a conclusão de que nem um sequer era autêntico. O mesmo aconteceu com um psicólogo contemporâneo, chamado Robert L. Dean.
Durante vários anos, centenas de gravações contendo ‘línguas estranhas’ foram submetidas ao cuidadoso exame de autoridades, famosos linguistas internacionais tais como: William J. Samarin, professor de Antropologia e Línguas da Universidade de Toronto; Dr. William Welmes, professor de Línguas Africanas da Universidade da Califórnia; Dr. Eugene Nida, renomado linguista da Sociedade Bíblica Americana.
 
O Dr. Welmes declarou enfaticamente: “Devo declarar sem reservas que as gravações que examinei não se assemelham estruturalmente a uma língua. Nada há mais que sons de vogais contrastantes, e poucos sons peculiares de consoantes. Estes combinam para formar bem poucos conjuntos de sílabas que se repetem muitas vezes em ordem variada.” (Letter to the Editor – Christianity today, VIII – 8 de novembro de 1963, pág. 19, 20).
 
O Dr. Samarin baseou sua pesquisa em estudos realizados em línguas faladas nas reuniões pentecostais na Europa e na América do Norte, entre pessoas de idiomas diferentes. Ele declara: “Na construção, bem como na função as ‘línguas’ são fundamentalmente diferentes de idiomas.” (Tongues of Men and Angels, pág. 227).
 
Estudos minuciosos feitos desde 1911, baseados em análises científicas, concluem que a ‘língua estranha’ neo-pentecostal não equivale a línguas conhecidas. Essa conclusão é baseada nos seguintes fatores: 
1- As frequentes repetições das ‘línguas estranhas’
 
2- A similaridade da ‘língua conhecida’ com a ‘língua estranha’
 
3- O uso excessivo de uma ou duas vogais apenas
 
4- A ausência de qualquer estrutura
 
5- A notável diferença excedente de interpretação quando comparada com a língua falada
 
6- A inconsistência na interpretação de frases iguais
 
Os linguistas concluem que a fala extática é composta de sons desconhecidos, sem vocabulário ou traços gramaticais distinguíveis, com traços estrangeiros simulados e ausência total de características de um idioma existente. Por esta razão, muitos pentecostais alegam falar a ‘língua do Céu’ ou a ‘língua dos anjos’. Quanto a isso, o Dr. Welmes assevera: “Mesmo a língua celestial deve demonstrar características de um idioma conhecido. Deus não é irracional, e a linguagem humana existe simplesmente porque o homem foi criado à imagem de Deus.” (The Batism, Power, Gifts and Fruit of the Holy Spirit, pág. 19).
 
Em relação à ‘língua dos anjos’ pentecostal, o Dr. Welmes continua afirmando que “achou nelas uma pobreza de características que tornam uma língua rica. Elas revelam uma estrutura silábica mais elementar e limitada do que o Inglês. Eu certamente esperaria mais de uma ‘linguagem celestial’ – mais variedade, originalidade e beleza. Pode-e facilmente encontrar muito mais em qualquer língua terrestre.” (The Batism, Power, Gifts and Fruit of the Holy Spirit, pág. 23).
 
Eugene Nida também estudou as chamadas ‘língua dos anjos’ e concluiu que faltam elementos de uma verdadeira língua: Se, não constituem um idioma, o que são? “Pode-se unicamente dizer que são uma forma de linguagem extática.” (Citado em Movimento Carismático – Um Estudo Exegético e Teológico de Suas Principais Características, pág. 51).
 
Muitos dos que falam ‘línguas’ hoje, começam a prática somente depois de receberem instruções, e ainda sob a pressão psicológica de não serem autênticos cristãos evangélicos, a menos que passem pela ‘experiência’.
 
Harold Bredesen, um dos líderes carismáticos da Universidade de Yale, aconselhava aos estudantes a darem os seguintes passos: 
1. Pensar concretamente visualizando a pessoa de Jesus
2. Submeter conscienciosamente os órgãos vocais ao Espírito Santo
 
3.Repetir certos sons elementares, tais como: bath – bah – bah, ou algo semelhante. (Estudo Exegético e Teológico de Suas Principais Características, pág. 52).
 
O Dr. Welmes continua sua abordagem: “...As consoantes e vogais nem todas parecem com o Inglês (a língua nativa do “glossolalista”), porém as regras da entonação são o Inglês americano tão completamente que o efeito total é bem ridículo.” (Robert Gromacki, Movimento Moderno de Línguas, pág. 105).
 
Que Língua os Anjos Falam Quando Estão Aqui na Terra?
 
1.Em Gênesis16:7-13; 21:17 no diálogo com Agar
 
2. Em Gênesis 19:1, 2, 15, no diálogo com Ló
 
3. Em Gênesis 22:11-15, no diálogo com Abraão
 
4.Em Gênesis 31:11, 12, no diálogo com Jacó
 
5. Em Números 22:32, 35, no diálogo com Balaão
 
6. Em Juizes 2:1-4, no diálogo com o povo
 
7.Em Juizes 6:12, no diálogo com Gideão
 
8. Em Mateus 1:20; 2:13,no sonho de José
 
9. Em Mateus 28:5, no diálogo com as discípulas
 
10.Em Lucas 1:13-20, no diálogo com Zacarias
 
11. Em Lucas 1:28-38, no diálogo com Maria
 
12. Em Lucas 2:10, no diálogo com os pastores
 
13.Em Lucas 2:13, 14, em proclamação à multidão
 
14. Em Lucas 2:21, nos é dito que foi o anjo de Deus que indicou o nome de Jesus, antes mesmo Dele nascer. A palavra ‘Jesus’ é um vocábulo, não apenas compreensivo, mas com um significado etimológico de origem hebraica.
 
Conclusão
 
Os anjos, portanto, falaram, nos diversos episódios em que contataram os homens, usando uma linguagem compreensiva, isto é, o vernáculo corrente das pessoas a quem se dirigiam. Em relação ao dom de línguas outorgado no dia de Pentecostes, verificamos que foi e continua sendo uma capacitação especial e sobrenatural para comunicar verbalmente o Evangelho em um idioma estrangeiro quando há uma extrema necessidade de fazê-lo de maneira rápida e eficiente, a fim de testemunharmos da obra expiatória de Jesus aos homens das diversas etnias (Atos 1:8).


[1] Os grifos nos textos bíblicos são nossos.

Autor: Pr. Josimir Albino do Nascimento